Novamente, como RA ímpar, devo argumentar contra a imparcialidade da ciência. Contra, ao menos, o critério de que ela deve ser sempre imparcial.
É importante ressaltar que esse texto não representa, necessariamente, aquilo em que acredito. Trata-se apenas de um exercício de argumentação.
A ciência deve ser imparcial, mas não o é. Ao menos não integralmente, pois os cientistas são humanos. Mas deve se sempre buscar a imparcialidade... Deve-se mesmo? Imparcial, segundo o Houaiss, é “que julga sem paixão”. Agora questiono: o que faz um esportista ou um músico bons em suas atividades? Não seria justamente a paixão pelo que fazem?
Mas um cientista tem paixão pelo que faz, você dirá. Sim, ponto pra você. Mas ele tem paixão pela ciência, pelo desconhecido, pela descoberta. O cientista que tem um envolvimento emocional com seu objeto de pesquisa – seja porque aquela máquina lhe trará benefício pessoal, ou porque sua filha poderá ser curada por aquele tratamento – busca o resultado com mais afinco, não se deixa desanimar com fatores negativos no meio do caminho. Pode inclusive buscar saídas pouco usuais e um tanto arriscadas.
Não defendo, de forma alguma, comportamentos antiéticos, irresponsáveis. Não digo que os fins justificam os meios. Mas creio que a imparcialidade pode transformar os cientistas em máquinas e tirar toda a beleza, a criatividade, e mesmo a eficiência, de diversas pesquisas. É preciso que o cientista tenha vínculo emocional com sua pesquisa. Que a ame, respire-a no seu dia-a-dia. Ele deve, sim, conseguir prová-la, argumentá-la com a comunidade científica. Valores cognitivos, imparciais, são necessários para isso. Portanto, ao apresentar os resultados, a imparcialidade deve prevalecer. Mas deixar seu toque pessoal, parcial naquela pesquisa que tanto ama, não é algo condenável. É preciso saber apenas dosar. Quando acaba a parcialidade e deve imperar a imparcialidade?
Grande
Há 7 anos
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