quinta-feira, 26 de março de 2009

Atividade 3.1 - Sensações e percepções do Trabalho

Interessante como um mesmo tema pode ser tão amplamente abordado e despertar tantas impressões e sensações diferentes. Mesmo porque, a mesma “palavra” pode querer dizer várias coisas diferentes. Consultando o dicionário, a palavra trabalho apresenta mais de 20 definições, que achei interessante acrescentar ao texto à medida que forem pertinentes.

Lendo o decreto-lei, senti-me incomodada. Não gosto de textos jurídicos, da linguagem formal e complexa, do “juridiquês”. De que adianta ter as leis escritas de forma tão pomposa que o povo nem consegue ler? Não sou contra leis. Ao contrário, acho que são necessárias e acho que é dever de todos nós respeitá-las. Mas acho que deveriam ser mais acessíveis aos cidadãos comuns. Deveriam ser de fácil leitura, de fácil entendimento e sem ambigüidades, geradas pela linguagem difícil.
Neste contexto, o trabalho seria “atividade profissional regular, remunerada ou assalariada”, e o discutido nesse texto é justamente a remuneração, o salário mínimo. Este é conceituado como o menor valor que se pode pagar a um trabalhador pelo seu trabalho de um mês. Em teoria, este valor supre as necessidades do dia-a-dia do trabalhador, como alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte. A questão que fica é: supre mesmo? Mas essa discussão fica pra outro texto.

Lendo o texto seguinte, veio o cansaço, o tédio. Segundo o Houaiss, o trabalho no conceito físico é “grandeza que pode ser definida como o produto da magnitude de uma força e a distância percorrida pelo ponto de aplicação da força na direção desta”. Eu diria na verdade que deu trabalho – “esforço incomum; luta, lida, faina” – ler e compreender tal texto. Provavelmente alguns de meus colegas de disciplina discordem e digam que tal trabalho se aplica ao ler textos de biologia molecular e técnicas de laboratório...

A tela de Portinari, por sua vez, despertou asco, vergonha. O trabalho entra aqui como “conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim”. No caso, talvez para evitar determinado fim – castigos, punições, morte. Isso é passado, hoje existe inclusive o decreto-lei definindo regras acerca do salário mínimo. Mas está tudo tão mudado mesmo? Ainda existe muita gente em muito lugar trabalhando como escravo, em sentido figurado, ou mesmo literal. E também devemos levar em conta a discriminação que restou desse período...

Por fim, ao ouvir a música de Chico Buarque, lembrei-me da minha infância, das muitas canções de MPB que escutava. Aproveitei-me do YouTube para ouvir novamente várias delas, enquanto pensava na “Construção”. Tal construção seria o trabalho no sentido do “exercício dessa atividade” e do “local onde é exercida tal atividade”.
A música desperta uma sensação de impotência diante de fatos corriqueiros da vida. A morte de um trabalhador, um acidente (?) de trabalho. A vida das outras pessoas continua, sendo apenas levemente perturbada por aquele corpo inconveniente no meio da rua. E a viúva? E as crianças órfãs de pai? E os pais que perderam o filho? Já não basta a trágica morte de uma pessoa, diversas outras vidas são afetadas profundamente, nunca mais serão as mesmas.
As proparoxítonas fechando cada verso dão uma melodia e um impacto incrível à música. A repetição da mesma seqüência de fatos com tais proparoxítonas trocadas faz uma releitura muito interessante do caso relatado. E afinal, o que aconteceu? Ele estava bêbado? Sonhando acordado? Dançando para afugentar o tédio do dia-a-dia? Cabe a cada um interpretar da forma que melhor lhe convier.

Como bióloga, o trabalho é um pouco de cada uma das definições citadas. Acrescentaria também “tarefa a cumprir; serviço”. Acredito que seja a realidade em várias outras carreiras, mas existe um abismo muito grande entre o trabalho que é pago, reconhecido, avaliado, do que é efetivamente feito. Como professor, por exemplo, o tempo em casa preparando aula, corrigindo provas, as noites de sono perdidas por preocupação com os alunos, não é considerado. Como pesquisador, as noites em claro realizando experimentos, as horas despendidas lendo artigos também não são contabilizadas. Mas o amor pelo que se faz, compensa. Compensa?...

Referência:
Dicionário Eletrônico Houaiss - Versão 2.0.5.0 - Editora Objetiva

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